Em entrevista à FOLHA UNIVERSITÁRIA (ed. no. 465), o atual “chanceler” da ANHANGUERA (seja lá o que isso queira dizer...), prof. Antonio Carbonari Netto é apresentado como “educador” e “empreendedor”. Pois bem, sempre que vemos termos como “educação” surgirem vinculados a outros que nos remetem a “negócios” (como é o caso de “empreendedorismo”), sentimos aquele calafrio mortal que geralmente antecede o abismo. Mas esse tipo de junção de termos, por mais bizarro que nos pareça, vem se tornando cada vez mais comum. Sobretudo quando notamos que o diploma mais cobiçado pelos “educadores” nos últimos anos é o de MBA (Master of Business Administration), um suposto “mestrado” em administração de empresas, mas que na verdade (pelo menos no Brasil) não passa de uma “especialização”. Mas cheguemos logo ao ponto: a entrevista do nosso auto-intitulado chanceler.
O chanceler-empreendedor da empresa Anhanguera aponta que, em sua organização, duas vezes por ano, toda a estrutura é avaliada: “Nós criamos um índice chamado ISD (Índice de Satisfação Discente) e aquele índice nosso que não tiver 70% de satisfação, na opinião dos alunos, ele tem um prazo ou caduca. Isso quer dizer o quê? O laboratório está com 90%, parabéns, está bom. A biblioteca está com 85%, está ótima”. A iniciativa parece boa, afinal, há que se agradar o consumidor. Nada de muito terrível nisso, afinal, os alunos merecem boas bibliotecas e bons laboratórios. Mas também merecem professores qualificados. Gostaria, portanto, de sugerir uma avaliação da empresa pelos alunos quanto às recentes demissões de professores. Para tanto, tomei a liberdade de pensar em algumas perguntas:
1.“o que você acha de nossa empreendedora iniciativa de demitir 1.500 professores, sobretudo mestres e doutores, para substituí-los por especialistas mais baratos?”
2. “você concorda com a substituição de professores doutores por professores especialistas nos nossos laboratórios de pesquisa?”
3. “o que você acha de nossa iniciativa empresarial de reduzir o número de bolsas para alunos carentes além de extinguirmos as bolsas-tutor?”
Não existe nada melhor do que fazermos as perguntas certas. Por isso decidi sugerir essas questões, porque o Índice de Satisfação do Aluno é sempre medido ao indagá-lo acerca da “competência” do professor, enquanto nunca se pergunta ao aluno o que ele acha das diretrizes acadêmicas da empresa. Ora, as faculdades privadas reconhecem o problema de guiar suas diretrizes acadêmicas (escolha das disciplinas, discussões acerca das ementas, etc.) com base na opinião dos alunos. Elas sabem que muitos de seus alunos (graças ao deficiente ensino público) são "analfabetos funcionais", ou seja, são incapazes de ler e entender textos simples.
As empresas de educação superior sabem que não podem ser guiadas em suas decisões acadêmicas por esses alunos, mas acham muito razoável guiar suas considerações acerca da “competência” de seus professores pela opinião desses mesmos alunos. Nisso reside o problema da democracia: a opinião da maioria deve ser respeitada, mas essa maioria deve ser suficientemente “esclarecida” e capaz de pensamentos auto-engendrados. Como não é o caso, a “democracia” proposta pelo nosso “chanceler” não passa de uma abstração perigosa da qual a própria ANHANGUERA faz o possível para se esquivar.
Mas ela não faz isso por ser “comprometida” com a educação. Ela só consegue agir nos estreitos limites do bom senso graças às magras determinações do Ministério da Educação (MEC). Se esse órgão regulador não existisse, as faculdades aceitariam alunos que não falassem o nosso idioma, reduziriam o número de aulas para 5 por semana, proibiriam aulas às sextas-feiras (acho que isso já existe...) e parcelariam os diplomas em 72 vezes no cartão de crédito (o pior é sabermos que boa parte dessas idéias brotaria de sugestões dos alunos). Afinal, para manter a clientela, de acordo com a máxima de que “o cliente tem sempre razão”, sabemos que as empresas de educação não hesitariam em incorporar aos seus editais qualquer absurdo que pudesse ser recompensado com aumento no número de matrículas. Esse é o modelo brasileiro de “empreendedorismo” na educação.
O chanceler-empreendedor da empresa Anhanguera aponta que, em sua organização, duas vezes por ano, toda a estrutura é avaliada: “Nós criamos um índice chamado ISD (Índice de Satisfação Discente) e aquele índice nosso que não tiver 70% de satisfação, na opinião dos alunos, ele tem um prazo ou caduca. Isso quer dizer o quê? O laboratório está com 90%, parabéns, está bom. A biblioteca está com 85%, está ótima”. A iniciativa parece boa, afinal, há que se agradar o consumidor. Nada de muito terrível nisso, afinal, os alunos merecem boas bibliotecas e bons laboratórios. Mas também merecem professores qualificados. Gostaria, portanto, de sugerir uma avaliação da empresa pelos alunos quanto às recentes demissões de professores. Para tanto, tomei a liberdade de pensar em algumas perguntas:
1.“o que você acha de nossa empreendedora iniciativa de demitir 1.500 professores, sobretudo mestres e doutores, para substituí-los por especialistas mais baratos?”
2. “você concorda com a substituição de professores doutores por professores especialistas nos nossos laboratórios de pesquisa?”
3. “o que você acha de nossa iniciativa empresarial de reduzir o número de bolsas para alunos carentes além de extinguirmos as bolsas-tutor?”
Não existe nada melhor do que fazermos as perguntas certas. Por isso decidi sugerir essas questões, porque o Índice de Satisfação do Aluno é sempre medido ao indagá-lo acerca da “competência” do professor, enquanto nunca se pergunta ao aluno o que ele acha das diretrizes acadêmicas da empresa. Ora, as faculdades privadas reconhecem o problema de guiar suas diretrizes acadêmicas (escolha das disciplinas, discussões acerca das ementas, etc.) com base na opinião dos alunos. Elas sabem que muitos de seus alunos (graças ao deficiente ensino público) são "analfabetos funcionais", ou seja, são incapazes de ler e entender textos simples.
As empresas de educação superior sabem que não podem ser guiadas em suas decisões acadêmicas por esses alunos, mas acham muito razoável guiar suas considerações acerca da “competência” de seus professores pela opinião desses mesmos alunos. Nisso reside o problema da democracia: a opinião da maioria deve ser respeitada, mas essa maioria deve ser suficientemente “esclarecida” e capaz de pensamentos auto-engendrados. Como não é o caso, a “democracia” proposta pelo nosso “chanceler” não passa de uma abstração perigosa da qual a própria ANHANGUERA faz o possível para se esquivar.
Mas ela não faz isso por ser “comprometida” com a educação. Ela só consegue agir nos estreitos limites do bom senso graças às magras determinações do Ministério da Educação (MEC). Se esse órgão regulador não existisse, as faculdades aceitariam alunos que não falassem o nosso idioma, reduziriam o número de aulas para 5 por semana, proibiriam aulas às sextas-feiras (acho que isso já existe...) e parcelariam os diplomas em 72 vezes no cartão de crédito (o pior é sabermos que boa parte dessas idéias brotaria de sugestões dos alunos). Afinal, para manter a clientela, de acordo com a máxima de que “o cliente tem sempre razão”, sabemos que as empresas de educação não hesitariam em incorporar aos seus editais qualquer absurdo que pudesse ser recompensado com aumento no número de matrículas. Esse é o modelo brasileiro de “empreendedorismo” na educação.
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