IT Forum 2012 | 30 de abril de 2012
Fomos para o Google. Claro que neste processo tivemos negociações, indas e vindas. Acabamos acertando nossa parceria, migramos nossas contas de e-mail e plataforma colaborativa”, afirmou Luciano Possani, CIO da Anhanguera
Com diversas aquisições nos últimos anos, a rede de ensino superior Anhanguera Educacional tinha um desafio nas mãos: aumentar a colaboração dos alunos em ambiente web sem perder o controle dos custos. Pelo fato de a marca ser voltada para jovens trabalhadores, a proposta é manter baixos custos operacionais, permitindo, assim, que as mensalidades estejam a preços acessíveis.
A saída foi apostar, em projeto desenhado em 2010, no serviço de e-mail em formato cloud computing do Google, bem com as ferramentas de colaboração nele embutidas, como Google Talk, Docs e Sites. Esse pontapé trouxe para a companhia, e se configura como uma tendência para os demais departamentos de TI, dois fenômenos: necessidade de ampliar os investimentos em atenção a links de internet, já que a dependência é total, e a invasão de dispositivos móveis pessoais dos colaboradores, fortalecendo o processo de consumerização.
A apresentação foi feita pelo CIO da empresa, Luciano Possani, na sessão Intercâmbio de Ideias, debate com cerca de 11 pares, realizado neste sábado (28/04) na 14ª. edição do IT Forum, realizado na Praia do Forte (BA), com cerca de 200 CIOs das 500 maiores empresas do Brasil. Todos os participantes da discussão concordaram que o sucesso do sistema de cloud computing no Brasil depende majoritariamente das empresas de Telecom e de sua capacidade de manter os links de internet funcionando.
“Fomos para o Google. Claro que neste processo tivemos negociações, indas e vindas. Acabamos acertando nossa parceria, migramos nossas contas de e-mail e plataforma colaborativa”, explicou o executivo, detalhando que são 6,5 mil contas corporativas e 120 mil contas de alunos e professores. O custo por usuário no Google é de 50 dólares anuais por conta, mas devido ao alto volume de contratação, a companhia conseguiu um valor mais reduzido (apesar de não divulgar qual foi este). Cerca de metade, tanto dos alunos quanto dos professores, tem acesso a esse novo serviço. As metas para este ano são que o número de contas suba para 250 mil, sendo 20 mil docentes.
O processo de migração, em termos culturais, foi menos impactante, porque os 120 mil alunos e professores não tinham um serviço do tipo antes da implantação da cloud computing. No caso dos funcionários, o serviço utilizado era o Microsoft Exchange. Para evitar problemas, a TI manteve as contas antigas armazenadas em PST para o caso de haver alguma necessidade de resgatar essas informações. Até o momento, ninguém fez uma solicitação do tipo. “Escolhemos o Google porque queríamos uma solução cloud nativamente cloud. Foi interessante porque tínhamos aquela plataforma de ensino, queríamos que evoluísse mais em forma de colaboração”, disse Possani.
A Anhanguera Educacional tem 70 unidades próprias e cerca de 500 pólos parceiros. A gestão fica centrada em Valinhos, interior de São Paulo. O primeiro benefício notado foi a redução dos anexos que trafegavam por e-mails. “Ficamos meio preocupados, porque sempre imaginamos o numero de anexos que era trafegado. Mas houve uma redução, porque os colaboradores começaram a utilizar o conceito de documento compartilhado na nuvem [Google Docs]”, explicou Possani.
A interface do usuário é customizada, este serviço contratado pela Amazon. Então o colaborador se loga neste ambiente para ser direcionado ao Google. Em abril de 2011, os serviços da Amazon saíram do ar – situação caracterizada por Possani como único problema enfrentado até então. A companhia demorou dois dias para resolver o problema, o que gerou a necessidade de desenvolver uma solução interna para que os serviços fossem prestados neste meio tempo. Essa resposta veio em meio dia.
Dependência da conexão
Cerca de cinco participantes do debate estão em um processo de implantação de tecnologia de cloud computing. Todos os presentes da sala estavam interessados em contratar algo do tipo, motivo pelo qual a ideia era exatamente obter informações sobre riscos envolvendo segurança e disponibilidade. E o consenso foi o citado acima: se o CIO não confiar no link de internet, ele não deve migrar para cloud, porque a dependência da conexão é total.
A companhia usa MPLS IP. “Meu problema hoje é Telecom. Tenho redundância de internet e sempre tenho que usar essa redundância”, disse. No caso do próprio serviço, da própria nuvem, a disponibilidade é praticamente total. “Meus e-mails eram clusterizados e mesmo assim caíam. Não enfrento mais esse problema”, disse Possani. Para conseguir garantir a disponibilidade dos e-mails no modelo antigo, algumas contas chegavam a ter apenas 100 MB de capacidade. Com o Google, são 25 GB para todos os usuários. “Queremos explorar cada vez mais as APIs do Google”, complementou. Alguns serviços, como de hosting, estavam contratados. Até o fim deste ano a perspectiva é que eles sejam completamente substituídos pelos serviços do Google.
“A tendência de cloud depende das operadoras de Telecom. Se as operadoras conseguirem atender isso, o processo é mais simples. Com problemas de conexão, você corre o risco de ficar ilhado”, disse Paulo Gustavo Tillmann, da Mataboi, com sede em Minas Gerais.
Consumerização e segurança
A questão de segurança, muito falada quando se discute cloud computing, foi levantada, mas os próprios CIOs comentaram que é muito mais fácil o servidor interno ser invadido do que um ambiente completamente estabelecido de cloud computing, como o do Google. “Acabou o perímetro. Antes a TI estava acostumada a trabalhar com segurança em perímetro. A questão é: como a gente se protege?”, pontuou Cristiano Barbieri, CIO da Sulamérica.
Segundo Walter Shimabukuro , da Central Nacional Unimed, uma forma de trazer o conceito cloud para dentro da empresa e justificar, em números, as vantagens. “Temos que arrumar um jeito de justificar a redução do custo e a segurança. Avaliei um serviço em nuvem que que o payback seria de oito meses”, disse.
O fenômeno da consumerização é impulsionado com o fácil acesso a aplicações corporativas por meio de serviços de cloud computing. Segundo Barbieri, assim que as soluções do Google foram adotadas em sua empresa, o número de smartphones conectados à sua rede passou de mil para três mil, de um dia para o outro.
Possani viu o mesmo movimento, especialmente com computadores portáteis. “A minha gerente de infraestrutura veio perguntar o que fazia com tantas pessoas acessando à rede de nosso link. Isso é algo que ainda estamos aprendendo”, pontuou.
A questão, então, envolve a gestão desse tipo de movimento, com a companhia ficando atenta, por exemplo, no cancelamento de contas no caso de desligamento de funcionários.
Na visão dos executivos, serviços de TI vão se tornar algo parecido com energia elétrica, depois da Revolução Industrial: ninguém mais produzirá a sua própria, contratando-a como utility. “A nuvem estará muito presente no futuro e o ambiente de TI será híbrido”, finalizou Possani