domingo, 16 de junho de 2013

Fusão Kroton-Anhanguera, cartel do ensino privado

Data: 28/05/2013

Anunciada no dia 22 de abril, a fusão entre as empresas Kroton Educacional S.A. e Anhanguera Educacional foi considerada pela mídia especializada como a criação do maior negócio de ensino do mundo. Juntas, Kroton e Anhanguera serão donas de 800 unidades de ensino superior e de 810 escolas privadas, distribuídas por todos os estados brasileiros, universo que engloba um milhão de estudantes só nos segmentos de educação superior e profissional, que oferecem cursos presenciais e à distância.

Altas cifras expressam a grandiosidade da fusão, materializada por meio de uma troca de ações estimada em R$ 5 bilhões. O valor de mercado das duas companhias aproxima-se dos R$ 12 bilhões. Em 2012, a soma da receita bruta das empresas foi de R$ 4,3 bilhões, segundo a Kroton.

Para ser consolidada, a transação será submetida a uma avaliação prévia do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão federal. Reportagem da agência Reuters, publicada em 22 de abril, informa que as empresas continuarão totalmente independentes até a aprovação do Cade.

Mercado ávido
A mídia especializada em negócios noticiou a união dessas gigantes como uma extraordinária transação mercantil, mas banalizou seu impacto deletério sobre o ensino superior no Brasil. Poucas foram as pontuações relativas ao avanço sem precedentes da mercantilização do setor, que tem entre seus principais fatores a ainda escassa (apesar da expansão registrada nos últimos anos) oferta de vagas nas universidades públicas federais e estaduais.

Em 2011, o Brasil tinha 6,73 milhões de estudantes matriculados em cursos de ensino superior presenciais e à distância. Desses, 4,96 milhões (73,7%) estavam matriculados na rede privada e apenas 1,77 milhão (23,3%) na rede pública. Os dados são do último censo da Educação Superior, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Em 2009, o fundo americano Advent International comprou 28% da Kroton. Capitalizada, a empresa também foi às compras e adquiriu a Iuni Educacional, de Altamiro Belo Galindo, pai de Rodrigo Galindo, atual presidente da Kroton. Segundo reportagem publicada no site da revista Exame em 25 de abril, Galindo pai “foi um ávido comprador de universidades, e coube a ele o desafio de integrá-las”. No ramo, ele desenvolveu um método de integração curricular e administrativa de faculdades privadas num tempo recorde de 90 dias, metade do que se fazia no setor. “À frente da Kroton, Galindo seguiu à risca a mesma receita que criou na Iuni. As faculdades passaram a abrir turmas somente com um número mínimo de alunos que permitisse que cada sala de aula fosse rentável”, diz a Exame.

Ambiente virtual?
“Galindo [filho] explica que [com a técnica de integração rápida] o modelo acadêmico é otimizado e garante padrões de qualidade adequados. Trocando em miúdos, a tecnologia é a base do método. Quanto menos aulas presenciais a faculdade oferecer, menor o custo por aluno. No ensino presencial, a quantidade de aulas em classe é a mínima exigida pelo Ministério da Educação (MEC)”, diz reportagem da Época Negócios, publicada na Internet em 22 de abril. O texto continua: “as atividades complementares são todas feitas num ambiente virtual. Para quem duvida da eficácia desse sistema de ensino, Galindo lembra que os cursos oferecidos pela Kroton têm notas no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) entre 3 e 4, numa escala que vai de zero a 5”.

Reagindo às críticas, a S2publicom, empresa que presta assessoria de comunicação à Kroton, diz em press-release: “Anhanguera e Kroton seguirão com o compromisso diário de transformar a vida de milhares de pessoas por meio da educação de qualidade, formando cidadãos mais críticos, autônomos e preparados para o mercado de trabalho”.

* Com edição do ANDES-SN

Nenhum comentário:

Postar um comentário