domingo, 16 de junho de 2013

Fusão Kroton-Anhanguera, cartel do ensino privado

Anunciada no dia 22/4, a fusão entre as empresas Kroton Educacional S.A. e  Anhanguera Educacional foi considerada pela mídia especializada como a criação do maior negócio de ensino do mundo. Juntas, Kroton e Anhanguera serão donas de 800 unidades de ensino superior e de 810 escolas privadas distribuídas por todos os Estados brasileiros. Universo que engloba um milhão de estudantes só nos segmentos de educação superior e profissional, que oferecem cursos presenciais e à distân­cia.

Altas cifras expressam a grandiosidade da fusão, materializada por meio de uma troca de ações estimada em R$ 5 bilhões. O valor de mercado das duas companhias aproxima-se dos R$ 12 bilhões. Em 2012, a soma da receita bruta das empresas foi de R$ 4,3 bilhões, segundo a Kroton.

Para ser consolidada, a transação será submetida a uma avaliação prévia do Conselho Adminis­trativo de Defesa Econômica (Cade), órgão federal. Reportagem da agência Reuters, publicada em 22/4, informa que as empresas continuarão totalmente independentes até a aprovação do Cade.

Mercado ávido

A mídia especializada em negócios noticiou a união dessas gigantes como uma extraordinária transação mercantil, mas banalizou seu impacto deletério sobre o ensino superior no Brasil. Poucas foram as pontuações relativas ao avanço sem precedentes da mercantilização do setor, que tem entre seus principais fatores a ainda escassa (apesar da expansão registrada nos últimos anos) oferta de vagas nas universidades públicas federais e estaduais.

Em 2011, o Brasil tinha 6,73 milhões de estudantes matriculados em cursos de ensino superior presenciais e à distância. Desses, 4,96 milhões (73,7%) estavam matriculados na rede privada e apenas 1,77 milhão (23,3%) na rede pública. Os dados são do último Censo da Educação Superior divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Em 2009, o fundo americano Advent International comprou 28% da Kroton. Capitalizada, a empresa também foi às compras e adquiriu a Iuni Educacional, de Altamiro Belo Galindo, pai de Rodrigo Galindo, atual presidente da Kroton. Segundo reportagem publicada no site da revista Exame (25/4), Galindo pai “foi um ávido comprador de universidades, e coube a ele o desafio de integrá-las”. No ramo, ele desenvolveu um método de integração curricular e administrativa de faculdades privadas num tempo recorde de 90 dias, metade do que se fazia no setor. “À frente da Kroton, Galindo seguiu à risca a mesma receita que criou na Iuni. As facul­da­des passaram a abrir turmas somente com um número mínimo de alunos que permitisse que cada sala de aula fosse rentável”, diz Exame.

Ambiente virtual?

“Galindo [filho] explica que [com a técnica de integração rápida] o modelo acadêmico é otimizado e garante padrões de qualidade adequados. Trocando em miúdos, a tecnologia é a base do método. Quanto menos aulas presenciais a faculdade oferecer, menor o custo por aluno. No ensino presencial, a quantidade de aulas em classe é a mínima exigida pelo Ministério da Educação (MEC)”, diz reportagem da Época Negócios, publicada na Internet em 22/4. O texto continua: “As atividades complementares são todas feitas num ambiente virtual. Para quem duvida da eficácia desse sistema de ensino, Galindo lembra que os cursos ofere­cidos pela Kroton têm notas no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) entre 3 e 4, numa escala que vai de zero a 5”.

Reagindo às críticas, a S2publicom, empresa que presta assessoria de comunicação à Kroton, diz em press-release: “Anhanguera e Kroton seguirão com o compromisso diário de transformar a vida de milhares de pessoas por meio da educação de qualidade, formando cidadãos mais críticos, autônomos e preparados para o mercado de trabalho”. Esperaremos para ver?

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