quarta-feira, 24 de abril de 2013

Após fusão, Kroton e Anhanguera mantêm operações até o aval do Cade

23/04/2013 18h53 - Atualizado em 23/04/2013 18h53

Negócio entre redes de ensino cria gigante no setor educacional.
Especialistas divergem sobre como fusão vai afetar qualidade do ensino.

Paulo Guilherme Do G1, em São Paulo

Até a aprovação da fusão entre a rede de ensino privado Kroton Educacional e a Anhanguera Educacional pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a vida de estudantes e professores vinculdados a instituições dos dois grupos não muda, de acordo com as empresas. A aprovação do Cade pode levar até 11 meses.

O negócio anunciado na segunda-feira (22), em uma operação envolvendo ações e avaliada em cerca de R$ 5 bilhões, cria um gigante do setor educacional no mundo. Juntas, as empresas têm 1,2 milhão de alunos em todos os estados brasileiros.

Kroton e a Anhanguera afirmaram, por meio de suas assessorias de imprensa, que não vão mudar suas operações até a decisão final do Cade. Somente após esta aprovação os executivos das empresas vão se pronunciar sobre eventuais mudanças.

Juntas, as duas empresas têm 485 mil alunos matriculados no ensino superior presencial, 445 mil em cursos à distância e 289 mil na educação básica. São 123 campi de ensino presencial, 647 polos de ensino a distância e 810 escolas associadas na educação básica.

Entre as instituições que integram a rede Kroton estão Universidade Norte do Paraná (Unopar), Faculdades Pitágoras, Unic (Universidade de Cuiabá), Unime (Universidade Metropolitana de Educação e Cultura). Já a rede Anhanguera é dona da Univerdade Bandeirante de São Paulo (Uniban) desde 2011.
Cursos gratuitos serão realizados na unidade em Santa Bárbara (Foto: Divulgação)Faculdade Anhanguera em Santa Bárbara D'Oeste
(Foto: Divulgação)

Como fica o ensino?
Se a fusão representa um grande acontecimento na área de negócios, especialistas ouvidos pelo G1 divergem sobre como esta união vai afetar a qualidade do ensino das escolas e faculdades do conglomerado.

O professor da Trevisan Escola de Negócios, Olavo Furtado, acredita que a fusão poderá aumentar o nível de excelência do ensino para o público ao qual às instituições se destinam. “Isso vai levar um certo tempo, mas a tendência é que se tenha melhoria na qualidade do que se oferecia.”

Furtado acredita também que os professores serão valorizados com a fusão. "Não existe escola sem bons profissionais. Neste modelo, o padrão de por um professor na classe para dar aulas a granel não vai perdurar. Essa fusão vai melhorar a qualidade das relações entre instituição, relação e aluno", afirma. "Professor bom não será demitido."

Celso Napolitano, professor de administração de empresas da FGV-SP e presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), já não tem tanta certeza quanto à situação dos docentes. Ele teme que a fusão possa provocar demissões no corpo docente, como aconteceu com a Uniban quando foi comprada pelo grupo Anhanguera.

Napolitano diz que várias regiões nas quais as redes de ensino atuam não têm piso salarial. “Eles podem estipular o valor salarial daquela região. É um monopólio que pode beneficiar o consumidor, o aluno, com mensalidades mais baixas, mas também pode fazer com que a mão de obra do professor seja subvalorizada.”

Classes C e D
O especialista em administração de empresas destaca que o  foco dessas escolas são estudantes das classes C e D, alunos de ensino público com possibilidade de financiamento de órgãos governamentais, como o Prouni e o Fies. "Essas instituições têm garantida a mensalidade de aluno cativo paga pelo governo a um preço que ela mesmo estipula", diz Napolitano.

Para Reinaldo Gonçalves, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina, “há muitas reclamações com relação ao grande número de alunos em sala de aula, a excessiva busca de redução de custos e a forma de pagamento de docentes, com diminuição da carga horária noturna até as 22h, para evitar adicional, e estímulo à realização de disciplinas on-line”. Ele destaca que nas unidades da Anhanguera, por exemplo, não existem aulas presenciais às sextas-feiras, só à distância, seguindo a norma do Ministério da Educação de ter no máximo 20% da carga horária nesta modalidade.

Napolitano, da FGV-SP, conclui que caberá ao MEC fiscalizar com rigor a qualidade do ensino ofertado e buscar uma maneira de mensurar se a formação destes estudantes no ensino superior se reverte em uma ascensão social dos mesmos.

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