quarta-feira, 24 de abril de 2013

Educação brasileira é a maior do mundo, mas em qualidade...

Fábio Pereira Ribeiro
Será que essa concentração no setor educacional trará vantagens e qualidade superior à educação brasileira?
24/04/2013 11h01

No sábado, dia 20 de abril, o Brasil e o mundo conheceram o maior grupo educacional formado até agora. A fusão dos maiores grupos educacionais do Brasil, Kroton e Anhanguera, deu ao mercado educacional brasileiro, e também ao mercado mundial, um novo posicionamento do Brasil no sistema internacional de educação, e isso ainda representa uma alavanca significativa de número de alunos no mesmo grupo educacional de forma orgânica, considerando um único grupo estabelecido num único país.

O novo grupo formado pela fusão, que ainda depende de aprovação do CADE, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, representa um valor de mercado de 12 bilhões de reais (cerca de 6,29 bilhões de dólares), sendo que a segunda posição mundial, representada pelo grupo chinês New Oriental, está na casa de 2,84 bilhões de dólares. Assim o Brasil hoje tem uma grandeza nunca pensada, ou até mesmo estabelecida, principalmente no momento que o país vive pela sua deficiência na educação e na grande falta de mão de obra qualificada no país, sem contar os baixos investimentos e desenvolvimentos em inovação, que trazem uma grande perda de competitividade internacional.

O anúncio da fusão entre os dois grupos educacionais também traz uma nova perspectiva sobre o setor educacional superior do Brasil, pois mostra um amadurecimento na gestão das universidades privadas no país, que agora efetivamente se consolida, o que no passado era uma tragédia pedagógica, que gerou uma série de falências e fechamentos de instituições de ensino, sem contar o baixo desempenho que a grande maioria das instituições de ensino mantém até hoje. Para se ter uma ideia, hoje o Brasil tem 6 milhões de estudantes universitários matriculados – destes, 75% no ensino superior privado. Considerando os indicadores, 70% das instituições estão nas faixas nível 3 de qualidade (levando em conta um indicador máximo nível 5). Assim, nós brasileiros sempre estaremos na média. Para uma país com a grandeza que temos, e a importância que exercemos no cenário internacional, média 3 é muito pouco para o peso do Brasil na balança de poder mundial.

Se avaliarmos ainda o potencial do mercado brasileiro, o novo grupo tem muito o que crescer, pois, se o Brasil tem hoje 6 milhões de matriculados, o número é muito pequeno perto da demanda de profissionais que o país tem hoje. E, para ajudar, o governo federal amplia sua base de investimentos em financiamentos e programas de bolsas para criar um maior acesso. Além disso, temos a ampliação da Educação à Distância (EAD) no Brasil, que cresce em velocidade de Fórmula 1. Mas, ao mesmo tempo, a concentração de mais de um milhão de alunos no novo grupo traz alguns questionamentos.

Considerando que o Brasil tem um grande claro de mão de obra qualificada, de nível superior, e no momento está desenvolvendo ações para importar mão de obra qualificada do estrangeiro, qual será o resultado dessa concentração? Considerando o baixo desempenho dos alunos que acessam o ensino superior no Brasil – e muitos estão concentrados nestes grupos educacionais –, qual será o resultado competitivo que o Brasil terá com essa fusão? Será que essa concentração no setor educacional trará vantagens e qualidade superior à educação brasileira? Ou será somente mais um contínuo “faz que ensina, e faz que aprende, desde que pague”?

O sucateamento do ensino público ajudou a própria irresponsabilidade do governo federal em investir numa saída através do ensino privado, mas o problema é a não qualidade de instituições que efetivamente colocam no mercado mão de obra qualificada. E, o pior, a pesquisa aplicada e a inovação se perdem. Se considerarmos o novo grupo, quantas pesquisas aplicadas e desenvolvidas em parceria com empresas brasileiras foram realizadas? Para o novo grupo, a grande missão está atrelada ao processo de “criar acesso”, mesmo que para isso a instituição patrocine o “Dr. Pimpolho”, um programa humorístico de qualidade duvidosa, sem sinergia com a educação. Mas o brasileiro paga pelo seu gosto. Se quer um diploma, terá um diploma, mas, se quer educação, aí a conta já é outra.

Já comentei anteriormente em diversos artigos e palestras: o que o Brasil fez com os milhares de estudantes formados? Por que temos que importar mão de obra? Por que não temos uma Harvard, um MIT, o Massachusetts Institute of Technology, uma Stanford, uma Oxford, ou até mesmo escolas focadas nas problemáticas do país? Veja um exemplo: um dos maiores gargalos do Brasil é a logística, e muitas dessas universidades privadas têm como a maior base de alunos o curso de logística. Bem, já dá para ver para onde vamos.

A grande questão agora é saber se o novo grupo irá avançar num patamar efetivo de qualidade, considerando que ele controla hoje mais de 17% do mercado brasileiro, e está 3,45 bilhões de dólares à frente da China em valor de mercado.    

Não é à toa que as grandes universidades americanas e europeias querem entrar no Brasil. Na minha visão, o país tem uma grande brecha, o ensino com qualidade. O próprio mercado está cobrando isso. Se avaliarmos do ponto de vista de negócios, ou melhor, ensino de negócios, no Brasil só existem quatro grupos de alto nível internacional. Que bom, não é? Ainda existem mercado e esperança para o ensino de qualidade no Brasil.

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